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Thales Kroth de Souza

Autor: Thales Kroth de Souza

ENEM: A Prova do Abismo e de Realização de Sonhos e Condições na Complexa Educação Brasileira

20/1/2024 - Osasco - SP

Quando soube que a estudante Ana Laura Aparecida Gonçalves (24) alcançou 958,6 pontos no geral e tirou nota 1.000,00 em Matemática e suas Tecnologias no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), eu fiquei muito feliz pela incrível conquista e aprovação na sonhada Graduação em Medicina. O problema é que foram 9 anos para conseguir a realização via cursinhos e tentativas no exame em nove edições. Meu medo não é a tentativa e erro que tantos outros estudantes fazem por cobiçarem o prestigiado acesso a um curso de Medicina e outros cursos para realizar o sonho de atuarem na profissão após formados e receberem o galardão posterior, mas o medo do foco, da abertura de tantas tarefas, atividades, vontades para realizar um sonho. O quanto essa ideia do papel para a prática vale a pena?

Apenas 60 estudantes tiraram nota 1.000 na redação no ENEM, sendo 25 do Nordeste, 18 do Sudeste, 7 do Sul, 5 do Norte e Centro-Oeste, respectivamente, sendo o Inep. Não acho que seja uma realidade para se comemorar. Deveriam ter sido muito mais pessoas, muito mesmo. A qualidade do ensino brasileiro deve ser colocado à prova em exames, testes, na visibilidade do mercado de trabalho, na preparação e quadro para exercer atribuições em categorias que exigem a qualificação adequada independente de experiência.

O tema da redação na edição de 2023 foi "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil". Quer exemplos de dedicação que assumiram a responsabilidade para si e driblarem momentos de dificuldade ou incertezas quanto ao conhecimento independente da condição social? A estudante Millena Martins (19) estudava 10 horas por dia; Maria Laura Santin Klein (20) estudava entre 8 e 10 horas por dia; Morgana de Araújo Silva (31) a qual já fez Agronomia e Mestrado, atualmente faz Doutorado, bateu a nota mil e fará Medicina agora; ou Matheus Almeida (17) que estudava 5 horas pela manhã e mais 2 horas à tarde; ou com Lucca Santos Aguilar (17) que fazia a estratégia de estudar 2 horas para os deveres de casa e trabalhos, 3 ou 4 horas para resolver questões ou assistir a videoaulas para vestibulares, e 2 horas para projetos extracurriculares; entre tantos outros casos que poderiam ser citados na preparação da maior prova do país.

A prova de redação é conhecida por exigir dos candidatos uma variedade de combinações como coesão, domínio da norma culta da língua portuguesa, coerência e a habilidade de argumentar sobre temas sociais relevantes com criticidade no texto dissertativo-argumentativo. A questão é que entre os 60 que tiraram nota mil, apenas 4 vieram de escola pública, os outros 56 vieram de escola privada. Isso sem lembrar que em 2022 apenas 18 estudantes tiraram a nota mil. Isso também abre caminho para por em dúvida o quanto a dificuldade e adversidade da qualidade do ensino público precisa ser melhorado. Não sendo suficiente o pensar dessa maneira, como a educação pública pode vencer essa adversidade de não conseguir entregar alunos preparados para exames como o ENEM?

No levantamento realizado pelo Ministério da Educação mostrou que dos 832 mil participantes que estão concluindo o Ensino Médio em escolas públicas, apenas 43% teriam nota de corte suficiente para se inscrever em mais de 1.650 cursos de universidades públicas. Realmente algo sem condições de competitividade semelhante. Só que os dados mostram que a média das provas objetivas de escolas privadas é de 562 pontos contra 495 pontos das escolas públicas. A redação amplia ainda mais esse abismo com 736 pontos para escolas privadas e 554 pontos na média para escolas públicas. Para a conta, foram consideradas apenas escolas com mais de 10 participantes por recomendação do Inep.

O ENEM é a prova do abismo e de realização de sonhos e condições na complexa educação brasileira. Nenhum local no mundo há uma disparidade tão estranha a ver quanto esse teste. O Enem 2023 teve um total de mais de 4 milhões de inscritos, mas somente 2,7 milhões de participantes. Ou seja, 68% das pessoas que se inscreveram realmente fizeram as provas, sendo 65,9% dos inscritos e 70,9% de estudantes oriundos de escolas públicas.

Com todas essas informações, será que a possibilidade de aperfeiçoar os problemas na didática, no entendimento sobre a língua portuguesa, na capacidade de minimizar os cidadãos brasileiros que possuem analfabetismo funcional, que são as pessoas que sabem ler e escrever, mas não sabem identificar seu significado, as autoridades públicas e privadas poderão concentrar esforços para resolver o problema da receosa educação de baixa instrução e qualidade?

Quantos capítulos como esse precisaremos ver e saber sem que haja instrução e condições de políticas públicas resolverem esses problemas pela raiz? Há tanto o que fazer e podemos aprender com tantos países através do PISA – Programme for International Student Assessment (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) como Finlândia com seu currículo educacional que mescla competências culturais, interação e auto expressão, além do Canadá, Japão e seu sistema educacional forte e tradicional, Luxemburgo pela base formacional, a destacável Coreia do Sul, Israel, Estados Unidos, Irlanda e seu oferecimento em variadas experiências, o Reino Unido e os blocos Key Stages, e a consagrada Austrália com sessões e apoios para estudo para o foco na língua inglesa.

Tantos exemplos que podemos aprender com os mesmos, mesmo que nossas condições sejam diferentes de número, estímulo e grau. Ainda, antes que eu esqueça de falar das flores trazidas pela criticidade da língua portuguesa, o futuro da educação não é a coragem e o protagonismo de tantos jovens que conseguem tornar realidade os sonhos de milhares, talvez milhões, mas o pecado do estado e de entes privados atrapalharem com baixa qualidade, talvez não baixo investimento, mas baixa efetividade de condições e configurações para o ensino brasileiro que dinamiza essa distância entre nações aqui citadas com o Brasil. Eu acredito que o "jeitinho brasileiro" deveria ser usado com eficiência para aprender com seus erros e transforma um momento tão adverso como esse quando coloca-se às vergonhas da baixa qualidade e de entendimento sobre matérias e competências vistos no ENEM e, de forma indireta, comparações através do PISA com outros países, que precisamos driblar esse assunto e vencer essa batalha doméstica.

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