Autor: Thales Kroth de Souza
Tales de Mileto, filósofo, matemático e comerciante da Grécia Antiga disse: "O mundo evoluiu da água por processos naturais".
O pensamento teórico evolucionista esboça bem o pensamento que somente o naturalista Charles Darwin, 2.460 anos depois foi defender, seguido também por Empédocles de Agrigento, notável pelo pensamento que toda a matéria é feita de quatro elementos fundamentais: água, terra, ar e fogo.
A água é o elemento a que Tales, assim como elemento fundamental de Empédocles, atribuíram à geração de tudo o que existe, o arché. O arché é um termo fundamental na linguagem dos filósofos pré-socráticos, dado que é caracterizado pela procura da substância inicial de onde tudo deriva e é também a ideia mais antiga na filosofia, já que se tornou no ponto de passagem do pensamento mítico para o pensamento racional.
Com base em suas observações empíricas, o matemático constatou que todos os elementos que constituíam a natureza (ao menos aqueles a que ele tinha alcance) eram compostos, em maior ou menor proporção, de água. Isso é de longe a construção espontânea mais recente que ocorre no sul do Brasil.
Segundo a medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), até às 9h da desta terça-feira (26), o acumulado de chuva na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, já registra 413,8 milímetros de chuva. Segundo o Inmet, é o maior volume para um único mês desde 1916, quando teve início a série histórica. Os dias que registraram os maiores volumes de chuva no mês foram, em ordem, 04 de setembro (com 60 mm), 14 de setembro (58,4 mm) e 13 de setembro (56,3 mm).
Essa projeção de chuva é possível ser feita atualmente, mas dificilmente pode ser prevista, mesmo que Tales tenha previsto um eclipse solar em 585 a.C., mais especificamente em 28 de maio, segundo o relato histórico de Heródoto de Halicarnasso, atual Turquia, no livro Histórias, onde é registrado que foi interpretado como presságio e interrompeu uma batalha de longa data entre medos e lídios, com recursos totalmente escassos e totalmente diferente de hoje.
Posterior a Tales, Empédocles era considerado mágico e controlador de tempestades, possivelmente por conseguir prever chuvas, grande influenciador à tradição democrática, em seu livro Purificações promete poderes miraculosos como destruição do mal, cura da velhice e controle sobre a chuva e o vento. Não seria má ideia o controle da chuva para esse momento na maior mudança climática na região do Rio Grande do Sul em mais de 100 anos.
O recorde anterior havia sido em maio de 1941, quando volume de precipitação chegou a 405,5 mm. Os outros meses com os maiores acumulados são, respectivamente, junho de 1944 (403,6 mm), abril de 1941 (386,6 mm) e junho de 1982 (365,6 mm). Considerando o volume de 625,2 mm de chuva no município durante o inverno de 2023, foi o terceiro mais chuvoso desde 1961. O acumulado deste ano fica atrás apenas de 2020, com 677,9 mm e 1972, com 694,7 mm.
Mesmo que pareceça não ser tão estranho quanto o passado recente de 2020, não pode ser esquecido que houve um bloqueio atmosférico que surgiu nesse inverno, com temperaturas extremas em boa parte do Brasil e que separou as ondas de ar quente com ar frio. O interior do Nordeste e em Tocantis, temperaturas de 40ºC são comuns, todavia incêndios atingem o Pantanal de Mato Grosso do Sul, há consumo recorde de energia por conta de ar condicionados e a massa de ar quente e seca faz com que temperaturas cheguem a 45ºC.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão do Ministério da Agricultura e Pecuária, emitiu na sexta-feira (22/09) um “alerta vermelho” ou “de grande perigo” para 11 estados e o Distrito Federal, por causa das temperaturas acima da média, que devem se estender até terça-feira (26/09) e atingir o pico no domingo (01 de outubro), podendo chegar a 43ºC valendo para Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.
Se na Europa as temperaturas escaldantes estavam em julho batendo em 48ºC e as medidas espalhadas pelo mundo mostravam um desvio grande, nos Estados Unidos o alerta ficou para 100 milhões de pessoas, na Europa, foram 90 milhões. No total, a análise revela que, entre 30 de maio e 4 de setembro de 2022, ocorreram 61.672 mortes atribuíveis ao calor na Europa. Uma onda de carlos específica entre 18 e 24 julho de 2023 causou 11.637 mortes.
Outro ciclo extratropical, 12 de julho, causou 3 mortes e mais de 1 milhão de pessoas ficaram sem energia elétrica devido aos fortes ventos; e o ciclone extratropical, entre a noite de 15 e manhã de 16 de junho, causou 13 mortes, com forte volume de chuva em Teutônia (206,2 mm) e fortes ventos em Bom Jardim da Serra-SC (112 km/h) e em Tramandaí-RS (102 km/h), com 54 municípios atingidados, 15 mil desabrigados e desalojados sendo cerca de 3 mil produtores rurais, com perdas financeiras girando em torno de R$91 milhões, ao passo que 21 municípios de Santa Catarina decretaram situação de emergência e 2 pessoas morreram.
Para setembro de 2023, a Defesa Civil contabilizou 49 óbitos, 943 feridos, 3.130 pessoas resgatadas, 4.855 desabrigados, 21.095 desalojados, ao todo são 359.893 pessoas em 106 cidades afetadas pelas enchentes, prejuízo de R$1,3 bilhão sendo R$423,8 milhões só no Vale do Taquari; para Santa Catarina, Xanxerê (113 km/h) e Chapecó (96 km/h) registraram fortes ventos, sendo que 126 unidades consumidoras ficaram sem energia sendo que São Lourenço do Oeste registrou queda de uma torre de transmissão.
Tudo isso ensina-nos muita coisa, principalmente a solidariedade alheia no sul do Brasil, as experiências do desenvolvimento em uma região e de como as mudanças climáticas alteraram totalmente uma geografia de uma localidade como a ponte de ferro sobre o Rio das Antas, entre Farroupilha e Nova Roma do Sul, construída em 1930, levada pela força da correnteza; a destruição histórica de Roca Sales com enfrentamento a escassez de alimentos, água potável, sinal de telefonia e internet, falta de energia que deixou aproximadamente 100 mil pessoas sem luz.
Se o matemático Tales acreditava que a origem de tudo estava na água e Empédocles no controle das chuvas, assim como os Emirados Árabes Unidos utiliza drones e tecnologia para criar chuva artificial e combater o calor, seria muito útil o controle da chuva também para parar de chover e minimizar um impacto tão desastroso como esse que aconteceu.
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